Dez anos de Francisco: Feliz Aniversário

  • Publicado por Maria Clara Bingemer, Sexta, 24 de marco de 2023.
  • Journal do Brasil

Há dez anos o Cardeal Jorge Mario Bergoglio foi eleito Papa e escolheu para si o nome de Francisco. Desde então, tem mostrado ao mundo, entre muitas coisas, a importância primordial do encontro com o outro. Diz e repete que encontramos pessoas “não apenas vendo, mas olhando, não apenas ouvindo, não apenas cruzando caminhos com as pessoas, mas ficando com elas, não apenas dizendo “Que pena! Pobres pessoas”, mas deixando-nos comover pela compaixão. E isso implica aproximar-se, tocar e dizer “não chores, e dar pelo menos uma gota de vida”. Este é, segundo Francisco, o caminho para criar uma “cultura do encontro”.

A intenção básica da proposta desta cultura é combater a indiferença que prevalece em nossa sociedade de descarte, de velocidade, de superficialidade para chegar a um encontro verdadeiro e profundo com os outros. Mas para consegui-lo, devem ser estabelecidas certas condições. E é o próprio Papa quem as aponta: “Temos que ser pacientes se quisermos compreender aqueles que são diferentes de nós: as pessoas não se expressam plenamente quando são simplesmente toleradas, mas quando percebem que são verdadeiramente bem-vindas. Se tivermos um desejo genuíno de ouvir os outros, aprenderemos a olhar para o mundo com olhos diferentes e a apreciar a experiência humana tal como ela se manifesta em diferentes culturas e tradições”

As ruas do mundo são o lugar desta cultura de encontro, o “locus” onde as pessoas vivem, onde elas são efetiva e afetivamente acessíveis. O testemunho cristão, portanto, não é oferecido através de um bombardeio de pessoas com mensagens religiosas, mas por uma vontade de se entregar aos outros através de um desejo de responder paciente e respeitosamente às suas perguntas e dúvidas sobre o caminho da busca da verdade e do significado da existência humana.

De Bergoglio a Francisco encontramos o ponto central de uma mudança no próprio estilo de ser Papa. O mesmo Bergoglio que no documento de Aparecida influiu para que se valorizasse o encontro interpessoal com Deus e com o outro, revela-se na pessoa e na linguagem de Francisco como uma proposta audaciosa e avançada de criar uma “cultura do encontro”. O Papa sabe que não basta converter alguns indivíduos isolados para que haja uma real transformação na sociedade e na Igreja. Importa, sim, criar uma cultura, que significa tocar e converter atitudes, valores, costumes, tradições.

No balcão em frente às multidões à espera do anúncio do novo Papa, em 13 de Março de 2013, o Papa Francisco mostrou a sua disponibilidade para viver esse encontro, com palavras e gestos. Apresentou-se a si próprio como bispo de Roma, enraizado no fim do mundo, onde repousam suas origens. Pediu também a bênção do povo antes de abençoá-lo, invertendo a ordem do costume e da tradição.